DNA humano é extraído do ar e gera preocupações éticas entre cientistas
A obtenção de informações privadas a partir de amostras minúsculas de DNA está preocupando estudiosos sobre o uso das informações genéticas.
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David Duffy, um renomado geneticista de vida selvagem da Universidade da Flórida, embarcou em uma missão para aprimorar a detecção de doenças em tartarugas marinhas. Durante sua busca incessante, ele fez uma descoberta surpreendente: o DNA humano estava presente em todos os lugares que investigava.
Em um experimento notável, David e sua equipe realizaram a coleta de uma amostra de água diretamente de um riacho. Tal amostra passou por uma análise criteriosa por meio de um sequenciador de nanoporos, que se destaca pela sua capacidade de ler fragmentos de DNA mais extensos.
Os pesquisadores, para sua surpresa, conseguiram recuperar sequências de DNA humano completamente legíveis das amostras analisadas.
Dessa forma, a análise de amostras restritas proporcionou dados valiosos sobre a ancestralidade genética, em sintonia com a composição racial específica da região. Além disso, os cientistas identificaram mutações essenciais relacionadas a condições como: diabetes, problemas cardíacos e doenças oculares.
Os resultados desta pesquisa inovadora, publicados na renomada revista Nature Ecology & Evolution, revelam a habilidade dos cientistas em extrair informações médicas e genealógicas do ambiente a partir de minúsculos fragmentos de DNA humano.
Essa descoberta representa um marco significativo no campo da genética, mas também traz sérias preocupações éticas.
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Antes de tudo, o que é DNA?
DNA ou ainda ácido desoxirribonucléico consiste em uma molécula de vários átomos grudados, que se combinam formando uma escada em espiral. É comum ouvirmos falar que o DNA age como um modelo de ser vivo, mas por que isso?
Para responder a essa pergunta precisamos nos voltar para aqueles compostos químicos minúsculos, mas que são fundamentais a todo e qualquer tipo de vida – os aminoácidos. Cada aminoácido se acopla um no outro como se fosse uma peça de lego. Dessa forma, juntos, produzem uma infinita variedade de partículas maiores, as quais conhecemos por proteínas.
Se os aminoácidos são capazes de formar proteínas, estas ao serem combinadas formam células, que formam tecidos, que formam órgãos, que uma vez juntos formam criaturas vivas, como nós seres humanos.
Como bem sabemos, as proteínas precisam possuir o formato perfeito para que possam agir conforme suas funções. E é aí que entra o DNA, que dentre inúmeras funções tem como responsabilidade ‘dizer’ aos aminoácidos como devem se alinhar e se juntar no formato específico das proteínas.
Em tese, se as proteínas são produzidas de forma correta todas as células, órgãos e seres vivos, no geral, serão formados sem qualquer disfunção.
Fita de DNA e a produção da vida
Você já deve ter visto uma fita de DNA em suas aulas de biologia. Uma única fita do ácido desoxirribonucléico é extremamente longa, apresentando milhões de letras de comprimento. E, no geral, fica enrolada dentro do núcleo de uma molécula enquanto os aminoácidos ficam no citoplasma.
Para auxiliar na relação interacional entre DNA e citoplasma de modo que a conversão do aminoácido em proteína ocorra, alguns compostos especiais dentro do núcleo copiam parcialmente o código de DNA, formando aquilo que conhecemos como RNA.
As cópias menores do DNA podem passar pelos poros do núcleo, inserindo-se nos ribossomos (espécies de máquinas construtoras de proteínas). Os ribossomos então leem o RNA, e a cada 3 letras lidas, é informado aos ribossomos qual dos 20 tipos de aminoácidos devem ser adicionados. Por exemplo, o AGU informa ao ribossomo que deve adicionar uma Serina.
Depois da formação da proteína, a mesma pode cumprir as suas funções, como por exemplo, formar uma célula nova. Perceba o quão importante é DNA para origem da vida, não é de se espantar que o ácido desoxirribonucléico seja a receita molecular de um ser vivo.
Implicações éticas do DNA humano coletado
Especialistas forenses e jurídicos éticos estão ressaltando a importância de regulamentações mais abrangentes sobre privacidade e intimidade genética, impulsionadas pelas descobertas supracitadas realizadas pela equipe da Universidade da Flórida. Essas descobertas também expõem um desequilíbrio nas regras que envolvem essas técnicas nos Estados Unidos.
Dessa forma, os pesquisadores destacam a facilidade com que as autoridades policiais podem adotar uma nova tecnologia, mesmo que incompleta, em comparação com a dificuldade enfrentada pelos pesquisadores na obtenção de aprovação para estudos que validem efetivamente o funcionamento do sistema.
Essas questões levantam dilemas éticos significativos em relação à conservação da privacidade e das liberdades civis, sobretudo à medida que os desenvolvimentos tecnológicos possibilitam a obtenção de informações cada vez mais detalhadas a partir de amostras minúsculas de eDNA.
Dessa forma, a reflexão sobre essas preocupações se torna crucial ainda mais se considerarmos que o potencial do DNA em rastrear laços familiares, descendência e ancestralidade gera preocupações relevantes sobre privacidade e o uso desses dados genéticos.
Além disso, essas informações genéticas possuem um amplo mercado, abrangendo desde empresas farmacêuticas envolvidas no desenvolvimento de terapias até pesquisadores de saúde pública.